Não Tenha Medo do Escuro
(Don't Be Afraid of Dark, 2011)
Suspense/Terror - 99 min.
Direção: Troy Nixey
Roteiro: Guillermo Del Toro e Matthew Robbins
Com: Guy Pearce, Kate Holmes e Bailee Madison
Casa assombrada + crianças que vêem coisas que ninguém mais enxerga + criaturas saídas de algum pesadelo + Guillermo Del Toro. Se Não Tenha Medo do Escuro fosse uma fórmula matemática, essa seria a equação que a representaria, para o bem e para o mal, já que o filme apresenta todos os clichês e lugares comuns presentes em todas as narrativas que incluem um (ou mais) elementos citados aqui.
A casa assombrada é onde o personagem de Guy Pearce (Alex), um corretor de imóveis, mora junto a sua namorada Kim (Katie Holmes), enquanto a restaura. Uma mansão enorme e cheia cantos escuros e escura, foi lar de um antigo artista que morreu misteriosamente (para os personagens, já que o prólogo do filme mostra com riqueza de detalhes o destino do antigo morador). Quando a filha de Alex, a expressiva Sally (Bailee Madison) - e que me lembrou a mítica Carol Anne de Poltergeist em versão morena - vai morar com o pai acaba desencadeando a liberação de um antigo mal que habita aquela casa.
Crianças sempre foram um fetiche (sem segunda intenções por favor) de Del Toro. Sempre utilizando de sua inocência para confrontar o cinismo dos adultos, os filmes estrelados por crianças que tiveram a mão do diretor/produtor mexicano sempre se saíram bem. Aqui, é a garota Sally que move a história, quando descobre um porão abandonado, até então desconhecido. É lá que o mistério de Não Tenha Medo do Escuro é revelado. Embora já tenha sido veiculado no trailer, não vou aqui revelar a origem e a natureza dos tais seres estranhos que povoam o universo do filme.
Basta dizer que essas criaturas são uma mistura estranha de Gremlins mais violentos, com alguma coisa saída diretamente de um pesadelo de Guillermo, e que são relacionados a uma crença bastante popular mundo a fora. Não são tão interessantes como as criaturas produzidas por Guillermo em Hellboy ou em Labirinto do Fauno, já que fica claro que dessa vez a computação gráfica deu as caras na produção, devido à quantidade de bichos vistos em tela. Fazer cada criatura do modo tradicional, demandaria muito tempo e talvez muitos gastos, embora conseguisse dar um ar de mais realismo ao bichos.
Apesar de a direção ser do novato Troy Nixey, fica claro que o mexicano é o verdadeiro autor do projeto. Além de assinar o roteiro com Matthew Robbins (que adaptaram o telefilme de 1973 para o cinema), todos os seus cacoetes e temas favoritos estão no filme. Além das crianças e das criaturas, o diretor apresenta os créditos da mesma forma que fez em Hellboy, e inclui novamente a narrativa em que a mulher "desconhecida" se afeiçoa a criança como já havia feito em Labirinto do Fauno e em sua produção O Orfanato. Outra característica do diretor e produtor e o de sempre tentar sedimentar suas fantasias no mundo real, seja criando uma organização secreta, seja incluindo uma narrativa sobre preconceito, ou ambientá-la durante um período histórico especifico. Aqui ele novamente repete essa ideia.
Segurando as pontas Guy Pearce e Katie Holmes não se destacam mas também não prejudicam o filme. Pearce não é exatamente um personagem, mas um estereótipo do cético, enquanto Holmes (que não é uma grande atriz) faz a madrasta que tenta se aproximar da garota e que percebe primeiro que Sally conhece algum segredo sobre aquela casa. A garota Bailee Madison é uma grande surpresa. Expressiva e sabendo caminhar entre o inicial ceticismo, a coragem e o pânico, é uma talentosa jovem atriz.
Não Tenha Medo do Escuro pode ser enquadrado no que muita gente aponta como "horror clássico", o que nada mais é do que um filme de terror, onde não existe a necessidade do choque visual, seja ele com sangue ou sustos fáceis (geralmente acompanhados de determinados acordes da trilha sonora, essa que em Não Tenha Medo é muitíssimo influenciada pela produção da década de sessenta do horror), sendo que o clima de tensão e suspense é o responsável pelo medo do público. O filme tem alguns poucos sustos, é verdade, mas compensa pela sensação de tensão constante de que o escuro estará sempre lá nos espreitando, nos dando calafrios com a sensação de que existe algo a mais além das profundas e impenetráveis sombras.
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