Alice no País das Maravilhas
(Alice in Wonderland, 2010)Aventura/Fantasia - 108 min.
Direção: Tim Burton
Roteiro: Linda Woolverton
Com: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Crispin Glover
Tim Burton nunca foi um diretor que tivesse como principal característica a capacidade de contar boas histórias. Que os fãs me perdoem, mas Burton é um mestre do visual. Capaz de criar inúmeros momentos visualmente brilhantes que misturam toda sua vocação com o “gótico” misturando-o ao kitsch e ao absurdo, Burton fez a fama com obras que nesse aspecto são quase sempre inquestionáveis.
Porém, o mesmo mestre do visual nunca teve igual talento para narrar histórias que se utilizassem dessas imagens. Tudo no mundo de Burton é estéril. Vê-se a beleza, mas não nos envolvemos com ela. A comparação mais cabível é a de apreciar um quadro no museu. Vimos, gostamos, mas não nos envolvemos. Para que nos envolvêssemos em seus “quadros” bastaria a Burton ser capaz de criar as referencias entre o publico e obra, como fazem as pessoas realmente interessadas em artes plásticas. Geralmente as pessoas se preparam para acompanhar a exposição, ou acervo, tendo uma “base” formada anteriormente.
No cinema, essa base de envolvimento emocional tem de vir do diretor, que afinal é o comandante do “navio”. É ele que nos dá as coordenadas para que possamos acompanhar sua aventura.
Alice no País das Maravilhas, a adaptação dos personagens (e não da história) de Lewis Carrol, é mais um triunfo visual e fracasso narrativo do diretor. Em cada frame estão impregnados os maneirismos do diretor. Desde Johnny Depp repetindo pela enésima vez o papel de perturbado, até a trilha sonora clichê de Danny Elfman, passando pelas releituras de personagens “clássicos”, culminando num roteiro que quer abraçar o mundo e não consegue nem fechar as próprias mãos.
Começamos pela audácia de Burton em querer ser um tanto quanto arrogante, ao abrigar sua historia no futuro do clássico de Carrol. Talvez com medo de comparações entre sua eventual visão da obra e as demais versões (são muitas), o diretor saiu-se com a saída dos covardes refugiando-se em seu próprio mundinho (o que alias já havia feito com os Batmans) onde longe de comparações com o material original poderia “pirar” à vontade.
O problema é que além de apresentar uma história intitulada Alice no País das Maravilhas, que nada tem a ver com o livro homônimo, Burton ainda erra vertiginosamente ao mostrar seus personagens (esses sim os clássicos do livro) como simulacros cinzentos e sem graça.
A começar por sua protagonista que é muito fraca. Sendo mais um exemplo de adolescente revoltadinha com o mundo, age durante o tempo todo como um ser perdido (o que seria compreensível se a explicação para tal sensação não fosse tão patética) durante sua estada no mundo mágico de Underland... sim, e não Wonderland (coisas da mente “genial” de Burton).
A atriz Mia Wasikowska, passa o filme todo em uma jornada em busca de algo que os outros dizem que ela tem de fazer, e não se impõe em momento algum, culminando num ataque de Joana D’Arc, que confesso a vocês, só me fez rir, tamanha a cara de pau do diretor.
Os demais personagens não passam de asseclas acerebrados. A Rainha Branca (personagem de Anne Hathaway) é das coisas mais dantescas da historia recente do cinema. Sem o menor sentido, passa o filme inteiro num estado de afetação mental insuportável. É impossível torcer para “seu time”. Por outro lado, apesar dos efeitos de CG, Helena Bonham Carter é uma atriz de primeiro time, e tirando leite de pedra consegue ser a única a entregar algo próximo de uma atuação digna.
Crispin Glover está medonho (apesar de ser o usual em sua medíocre carreira) e Johnny Depp misturando o visual Madonna com problemas capilares com Willy Wonka depois de bater a cabeça, é mais um que copia a si mesmo. Em momentos lembra o pirata Jack Sparrow, em outros o já citado chocolateiro. Uma pena, pois acho que Depp é um ator com muito potencial, que em sua quase obsessiva parceria com Burton, pode estar perdendo chances de vôos mais altos, vide suas excelentes performances em Donnie Brasco, Em Busca da Terra do Nunca e Inimigos Públicos.
Burton quis compensar a falta de uma boa história com imagens bonitas. Em parte foi bem sucedido. O coelho é sensacional, os gêmeos (que tem nomes impronunciáveis) são foto-realistas, e a cabeça exagerada da Rainha de Copas é impressionante. Porém, e isso é uma critica pessoal (meu gosto mesmo), não gostei da re-invenção do gato (perdeu-se a imponência do personagem, relegando-o a ser mais um coadjuvante chato) e detestei a lagarta, que parece um professor chato e não aquele personagem dúbio que vimos no livro.
Talvez seja implicância de fã, ou meu modo de ver as coisas, mas o fato é que mesmo visualmente esse filme de Burton não me agradou. Reconheço o brilhantismo de sua equipe de produção, mas o uso excessivo da computação começa a transformar o cineasta num filhote mais estranho de George Lucas ou Robert Zemeckis.
E nem comentei o 3d. Pois é, não vi em 3d por dois motivos: primeiro que não pude, e segundo que pensando melhor não estou certo que valeria o investimento. Primeiro porque não teria gostado do filme e segundo, não vejo onde o uso dessa tecnologia poderia ajudar o filme. Ao contrário, acho que o uso do 3d foi uma forma tacanha de camuflar uma história ruim.
Burton prova mais uma vez que imagens “bonitas” e “3d”, nunca serão suficiente para fazer uma boa história. As bilheterias me desmentem sim, mas afinal, o público em geral pouco se importa com isso. Querem mais é pipoca, tiro e explosão. Uma pena.
Cara tbm não gostei muito o filme ficou devendo em muitas partes, uma pena, já que tinha tudo para bombar!
ResponderExcluirBem,quais sejam as criticas Tim revolucionou o cinema mundial com suas "obras de arte".Qualquer critica se torna nula perante a genialidade desse fantástico diretor.
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