sábado, 8 de maio de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus
(The Imaginarium of Doctor Parnassus, 2009)
Aventura/Fantasia - 123 min.

Direção: Terry Gillam
Roteiro: Terry Gillam e Charles McKeown

Com: Christopher Plummer, Heath Ledger, Lily Cole, Andrew Garfield, Tom Waits, Verne Troyer, Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell

A filmografia de Terry Gillam sempre foi marcada pelo lúdico, pelo desbunde visual, pela tentativa (muitas vezes bem sucedida) de transportar seu público a um mundo de fantasia e sonho, que funciona muito melhor quando o espectador embarca na jornada que seu diretor o convida.

Por isso, caso quem veja O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus não “aceite” o visual e as idéias de Gillam desde o princípio, será perfeitamente compreensível que as respostas ao filme sejam neutras, apáticas ou simplesmente ruins.

Digo isso pois, diferente de seus trabalhos mais conhecidos pelo grande público (Irmãos Grimm e Doze Macacos) que apesar de serem obras de realidade fantástica, ainda mantinham muito do realismo e de linearidade, o novo filme do diretor é muito mais um conto de fadas do que uma história com elementos fantásticos. Parnassus se assemelha em estilo a Brazil e visualmente muito a As Aventuras do Barão de Munchausen. Ambos tem “mundos” fabulosos, com direção de arte impecável e os dois pés fincados (fundo) no âmbito do onírico.


Pessoalmente, Dr. Parnassus num top do diretor entraria na terceira posição, atrás de Brazil e Doze Macacos e logo acima de Munchausen. Parnassus é (visualmente) um avanço artístico e tecnológico em relação ao filme do “Barão".

A história, rebuscada, fala do Dr. Parnassus (Christopher Plummer) uma espécie de guru/ mágico/ monge /artista circense que tem o poder de realizar visual e fisicamente os desejos da imaginação de quem passa por suas mãos. Ele vive com sua filha Valentina (Lily Cole), e dois ajudantes (o garoto Anton vivido por Andrew Garfield e o anão Percy interpretado por Verne Troyer). Essa trupe apresenta um show circense que mistura a comedia dell’arte com figurinos vitorianos e que pretende “iluminar” a vida dos escolhidos pelo doutor, além é claro de sobreviverem com as “doações”.


A coisa complica quando um misterioso homem é encontrado enforcado embaixo de uma ponte ainda vivo. Esse homem, bem vestido e que alega não lembrar de sua identidade, é interpretado por Heath Ledger (em seu último papel, mas acho que todos já sabiam disso).

O filme ainda conta com Tom Waits (sempre bom ver Waits em filmes), Peter Stormare (em uma ponta) e Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell em participações muito perspicazes por parte de Gillam. Sem soltar spoiler, o diretor os usou de maneira genial os três atores de forma fluida não tornando as participações dos mesmos gratuita e muito integrada ao espírito do filme.


Os três estão muito bem. Depp usa de seu carisma e de sua habilidade para interpretar tipos estranhos e fantasiosos, enquanto Law e Farrell (esse último mais) tem uma chance muito interessante de atuarem fora de sua zona de conforto. Os três funcionam como reflexos tortos vindos do mesmo espelho. Cada um com características diferentes, mas vindos do mesmo lugar.

A parte visual é a mais impressionante do ano sem dúvida. Apesar de muita gente estar reclamando do uso do CG, ele não me incomodou e na minha opinião se fez necessária, visto a natureza do tema do filme e das possibilidades infinitas que a computação hoje apresenta a cineastas.


É claro que o uso indiscriminado é ruim (que o diga Peter Jackson e seu Lovely Bones), mas Parnassus não o faz. As imagens são fabulosas, e mereciam mais reconhecimento. O mesmo pode ser dito dos figurinos e da fotografia que estão dentro do padrão dos filmes de Gillam, um monstro nos aspectos visuais.

É bom perceber que Gillam se recuperou no tropeço de Irmãos Grimm e da decepção com os infinitos atrasos de O Homem de La Mancha, que aparece no IMDB listado para 2011. A história construída pelo diretor é uma mistura de Fausto com grandes momentos do escritor Neil Gaiman e prima pelo bom gosto. Os únicos problemas acontecem no ato final quando parece que Gillam quis resolver seu filme muito rapidamente. Uns dez minutos a mais, ou uma diminuição do primeiro ato (muito longo e que se resume a “a trupe encontra Ledger”) poderiam ter feito melhor ao filme que prende a atenção e mantém-se interessante (mesmo que tendo ritmo mais lento) para o espectador.


Gillam é mesmo um mestre das histórias fantásticas e vem criando “mundos” desde os tempos em que era um dos Python. Fico esperando qual o próximo devaneio que surgira da cabeça do genial inglês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário