terça-feira, 4 de maio de 2010


Baarìa
(Baarìa, 2009)
Comédia/Drama - 150 min.

Direção: Giuseppe Tornatore
Roteiro: Giuseppe Tornatore

Com: Francesco Scianna, Margareth Madè, Giovanni Gambino, Davide Viviani,Giuseppe Garufi,Gaetano Sciortino, Marco Iermanò e Gaetano Aronica.

Chega um momento na vida de todos, em que por um momento ou outro voltamos nossos olhos e pensamentos as nossas origens, a nossa casa e as nossas memórias. Geralmente isso acontece quando a pessoa chega a uma determinada idade em que “viu de tudo e viveu tudo” que podia.

Giuseppe Tornatore mal tem cabelos brancos, mas vem mostrando isso desde Malena (seu filme em 2000), em que contou uma primeira paixão platônica entre um jovem e uma mulher mais velha durante a segunda guerra. Após o bom suspense “The Other Woman”, Tornatore revisita sua “pátria pessoal”. Sua Sicilia da infância, uma terra profundamente ensolarada e arenosa e cheia de pequenas histórias políticas e familiares. Uma terra cheia de homens e mulheres capazes de em suas vidas comuns proporcionarem um épico. É isso o que o diretor acha.

Em Baarìa, ele aprofunda o olhar do microscópio, trazendo a tona suas próprias memórias para ilustrar a tela com a história de uma família por três gerações. Muito influenciado por Fellini (que inclusive é citado no filme) e lembrando muito Novecento de Bertolucci, Tornatore autobiógrafa sua vida.


A história segue os homens da família Torrenuova. O pai Ciccio (Gaetano Arronica na maturidade, Alfio Sorbello quando criança), o filho Peppino (Francesco Scannia e Giovanni Gambino e Davide Viviani quando criança) e o neto Pietro (Marco Iermanò quando adulto e Giuseppe Garufi e Gaetano Scortino quando criança) podem ser considerados os personagens principais, porém são muitos os personagens que ilustram o mosaico que o diretor monta sobre sua terra.

O que deu pra perceber é que o alter-ego de Tornatore é Pietro, o filho mais novo de Peppino (o citado Scannia), o garoto curioso que se apaixona pelo cinema (numa cena que lembra em espírito Cinema Paradiso e é muito boa).

Durante a vida dessa família, Tornatore, quase de maneira episódica, apresenta os fatos mais importantes e os dissabores que os Torrenuova enfrentam. O problema é que apesar de apresentar alguns problemas aqui e ali e tentar até mostrar um pouco da política da época (o período da segunda guerra mundial é o cenário de boa parte do filme), tudo é conduzido com gracejos e numa tentativa desesperada de fazer rir, o que apesar de fazer do filme uma comédia leve e divertida (conseguindo umas poucas risadas é verdade), trás muito pouca (ou nenhuma) profundidade.


Não considero Tornatore um diretor tão genial como muita gente acha, apesar de Cinema Paradiso ser uma obra-prima sem nenhuma dúvida. Baarìa é bastante irregular, e por alguns momentos, sonolento. Parece que na ânsia de contar sua historia pessoal, Tornatore esqueceu que ela tinha de ser interessante e funcionar como filme. Por ser contada de forma episódica e flutuar por algumas histórias menores, o filme perde muito tempo e abusa dos efeitos de montagem (que são um clichê danado) para mostrarem a passagem de tempo entre os personagens, além de tratar a política da época de maneira quase infantil e ter como narrativa apenas um "fiozinho" solto no meio de sequencias muito bem fotografadas. O filme é exageradamente longo e o final, que tenta ser poético acaba soando pedante.

Para não dizerem que só falei mal do filme, tecnicamente ele é irrepreensível. A fotografia de Enrico Lucidi é maravilhosa, uma das mais bonitas do ano sem dúvida. Ajudado pela locação principal na própria cidade de Bagheria (que é chamada de Baarìa pelos habitantes locais), talvez seja o único momento de qualidade inegável do filme. Mesmo a trilha do mestre Morricone, parece uma colcha de retalhos de outros trabalhos mais inspirados do compositor. É melosa, desgastada e exageradamente épica.


Os atores saem-se bem e isso ajuda o enredo claudicante a se tornar mais suportável. Francesco Scannia é o melhor deles, vivendo o protagonista com mais tempo de tela, consegue ser engraçado quando precisa, e patético quando é necessário. Além disso, é a cara do Richard Gere, o que não é grande vantagem interpretativa, mas chama atenção da mulherada. A atriz que vive sua esposa Mannina (Margareth Madè) tem muito de Sophia Loren, e também cumpre bem seu papel. Os atores mirins também vão bem, mas o problema é o excesso. Excesso de tempo de tela (150 minutos é muita coisa) e excesso de  personagens secundários (tantos que você mal consegue guardar o nome de metade) e uma falta de profundidade em quase todos os momentos de tela.

Tornatore quis criar um épico pessoal. Errou feio no tom. Não consegue atingir o público, que apesar de rir de uma ou duas sequencias (o drama do casamento e o irmão que tenta o suicídio são muito boas) não consegue se apaixonar pelos personagens, pela "magia" e pela belíssima Baarìa.


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