segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Menina que Brincava com Fogo
(Flickan som lekte med elden, 2009)
Thriller - 129 min.

Direção: Daniel Alfredson
Roteiro: Jonas Frykberg

Com: Noomi Rapace, Michael Nyqvist

Na segunda parte da série Millenium somos levados ao aprofundamento de seus personagens, e na criação de novos conflitos (dessa vez sem a caça ao assassino) que funcionam como um intrincado quebra cabeça, que aos poucos é revelado, peça a peça, e que será concluído apenas no terceiro filme.

Tudo isso a partir da revelação da real natureza dos flashbacks de Lisbeth (que já conhecemos do primeiro filme) e das conseqüências para a garota. Ao mesmo tempo, vemos a personagem principal sendo envolvida numa trama de assassinatos que a acusa de ser a responsável pelas mortes.

Como em todo thriller que se presa as inúmeras reviravoltas são parte fundamental da “graça” do filme, porém muitas vezes essas idas e vindas do roteiro causam “dor de cabeça” em quem vê. Explico: quantas tramas se iniciam de forma fulgurante, prendendo a atenção do espectador, soltando inúmeras pistas, com personagens cativantes e transformam-se num emaranhado de soluções simplistas e causam uma dose de revolta em que pagou o ingresso?


A Menina que Brincava com Fogo flerta com esse perigo, ao começar a misturar a trama inicial (o assassinato de um advogado) com o passado da protagonista, a cada vez mais agressiva Lisbeth Salander. Por sorte (nossa), apesar da mistura, o resultado não compromete a qualidade do filme no geral. Não tem como não destacar a bela atuação da atriz Noomi Rapace, que mais segura do personagem engole o filme. Já Nyqvist é relegado a função de coadjuvante durante boa parte do filme e quando aparece em cena, parece realmente um estereotipo e não um personagem real.

Os males do filme também são vistos na criação de um personagem secundário que, pasmem, não sente dor e não fala (pelo menos não emite um som sequer durante o filme todo). Uma versão capenga do monstro de Frankenstein acompanhado do cientista louco.
O roteiro dessa vez busca fugir da tentativa desesperada de criar sub-tramas, e que era um mal do filme anterior. Em vez disso, Daniel Alfredson (irmão de Thomas Alfredson, que dirigiu Deixe Ela Entrar) e o roteirista Jonas Frykberg apostam em uma só trama, que é mostrada como um árvore antiga e malcuidada. A cada nova revelação, um novo galho surge. Porém como no exemplo da árvore, todas as revelações estão diretamente ligadas ao problema inicial e por isso não cansam o espectador, nem tentam ter mais importância que o todo.


Simbioticamente, o filme segue com grandes virtudes narrativas, amarrando serenamente todos os pontos nefrálgicos que culminam no final que será imediatamente retomado no terceiro filme, dando verdadeiramente um ar de continuidade.

Outra qualidade lapidada do primeiro filme da série é a sensível diminuição do tempo de projeção. De incríveis 150 minutos passamos a acompanhar uma historia (que é bem mais intrincada, e mesmo assim não surge confusa ou equivocada em suas amarrações) em 120. Por não perder tempo com as “barrigas” a ação flui de maneira mais natural, sem os atropelos do final do primeiro.

Porém até mesmo O Homem que Não Amava as Mulheres ganha com a sequencia, pois é nela que alguns pontos incômodos, mostrados no filme, são explicados e contextualizados. A historia de Lisbeth fica mais rica e fica claro que a “alma” da série (nos filmes pelo menos) é a garota.


Se no primeiro enfrentávamos um thriller “Agatha Christie”, nesse temos algo no estilo de “O Fugitivo”, o clássico plot do homem (no caso mulher) acusada injustamente e que tenta provar sua inocência.

Novamente, não vai mudar a vida de ninguém, mas funciona (mais do que o primeiro filme) como uma diversão inteligente e com uma protagonista bastante interessante.

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