Vengeance
(Fuk sau, 2009)
Thriller/Ação - 108 min.Direção: Johhny To
Roteiro: Ka-Fai Wai
Com: Johnny Hallyday, Anthony Wong Chau-Sang, Ka Tung Lam, Suet Lam, Simon Yam
Um dos meus vários defeitos como cinéfilo é o de acompanhar com mais atenção o cinema asiático. Vejo muito pouco, e por total “vagabundagem” minha. Por isso demoro “eras” para assistir algumas produções desse lado do planeta. Caras como Takashi Kitano e Takeshi Miike por exemplo, vim a conhecer a pouco tempo com profundidade. Mesmo mestres como Nagisa Oshima e Yasujiro Ozu, são alguns dos cineastas que preciso ver muito mais pra dizer que conheço. O mesmo caso é o do Johhny To, cineasta de Hong Kong que a mais de uma década (olha só como sou atrasado) impressiona o mundo com (segundo informações recolhidas net afora) filmes como Exile e The Mission, ambos não vistos por mim.
Em outras palavras, Vengeance é o meu primeiro Johnny To. E se depender da impressão causada por esse, a filmografia do diretor deverá ser explorada por mim e eventualmente aparecer por aqui em outras resenhas.
Vengeance fala de Costello (vivido por Johnny Hallyday, um dos mais famosos artistas franceses da história) um chef de cozinha que recebe a notícia que sua filha, seu genro e os dois netos foram atacados de forma brutal em Macau, onde residem.
Costello encontra a filha ainda viva e promete vingar a morte do marido e das crianças. Ao mesmo tempo o filme apresenta George Fung (Simon Yam), um gângster que contrata três matadores (Kwai, Chu e Fat Lok - Anthony Wong, Ka Tung Lam e Suet Lam respectivamente) para matar sua amante (ou namorada, ou esposa enfim...).
Por uma dessas coincidências Costello se encontra com os matadores no mesmo hotel, e subvertendo as expectativas contrata os matadores para encontrar os assassinos da família de sua filha.
Subvertendo, pois antes disso o filme se encaminhava para algo do tipo “Desejo de Matar”, com o exército de um homem só enfrentando tudo e todos para vingar a filha. To não cai nessa armadilha e coloca os matadores como personagens tão ou mais importantes para a construção do filme quanto Costello. Tudo isso colocado num universo cinzento, onde o mais importante é a sobrevivência. Por esse motivo simpatizamos de imediato pelos matadores, pois compreendemos que eles são apenas o objeto que fere, e não a mão que o lança.
O filme transcorre então, como um misto de thriller investigativo, longa de ação inteligente e história de vingança e redenção. Tudo junto, misturado e funcionando muito bem.
To me impressionou muito por sua criatividade estética e pela montagem das cenas de ação, que (existe vida inteligente no cinema de ação sim) não usa da câmera “piscou-perdeu”, ou os maneirismos ou o excesso de slow que é praxe em filmes de “gangsters” americanos ou de Guy Ritchie por exemplo. O slow surge quando necessário e é bem dosado. A câmera mostra o conflito, com tempo suficiente para o espectador entender o que está acontecendo. A fotografia também ajuda muito, com sequencias lindamente fotografadas, como a da briga no parque, onde a luz da lua (que sacada genial) influencia diretamente a visão dos personagens e do público. A montagem também é brilhante quando monta a reconstituição mental que os contratados de Costello fazem na casa da família morta. Cortes simples que mudam da perspectiva do hoje para o ontem de maneira orgânica. Muito sutil e bem feito.
To parece ser adepto da estética da violência plástica, que vem de Peckipah e do Spaghetti Western e vem sendo aperfeiçoada (para o bem e para o mal ) nos últimos 30 anos. O diretor é um aluno aplicado e felizmente bem intencionado. Cada batalha é montada como uma dança (como os filmes de John Woo e os épicos de kung fu e de “wire fu”) com introdução, desenvolvimento e conclusão. As batalhas parecem contar histórias por si só e podem ser analisadas separadamente se quisermos. A batalha final numa espécie de lixão é épica e conta com uns quinze personagens se muito.
To ainda revela-se para mim como um diretor seguro no contato com seus atores. Hallyday tem um papel complicado, cheio de pequenos detalhes que vão surgindo no filme e que são tratados de maneira natural, evitando excessos de verborragia ou de piedade.
O filme ainda funciona como uma pequena reflexão sobre a vingança. Para que ela serve? A quem atinge? E a quem verdadeiramente se sente vingado? A vítima? Ou o vingador?
Johhny To, cineasta de Hong Kong, é um nome que passará a figurar com mais freqüência no meu “dial” e no Fotograma Digital.
Estou devendo atenção a esse diretor de quem todos os meus amigos falam e até hoje não assisti a um de seus filmes. Gostei da trama. Me interessa a maneira como o cinema asiático filma a questão da violência. Não tem aquela coisa do herói americano, durão, pau pra toda obra...
ResponderExcluirCultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
É bem isso mesmo, gostei bastante do filme porque ele fugiu dessa armadilha. Vou atrás dos outros filmes do diretor para colocar por aqui.
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