Brilho de Uma Paixão
(Bright Star, 2009)
Drama/Romance - 119 min.Direção: Jane Campion
Roteiro: Jane Campion
Com: Abbie Cornish, Ben Whishaw, Kerry Fox
Jane Campion caso fosse brasileira muito provavelmente seria diretora de mini-séries ou novelas de época, tal seu interesse quase obsessivo em retratar periodos históricos e personalidades trágicas. Porém afora seu brilhante O Piano, seus demais trabalhos pecaram por excessos aqui e ali. Infelizmente não será com Brilho de uma Paixão que a diretora apresentará um trabalho no mesmo nível de seu trabalho mais famoso e competente.
Nessa produção Campion conta a história do amor entre o poeta John Keats e a jovem Fanny Brawne durante os últimos anos da vida do poeta, um dos mais importantes do chamado “estilo romântico”.
O filme não é ruim, mas é mais um que não fará falta a nenhum cinéfilo caso ele passe batido e você o veja na TV, ou mesmo nunca o veja. Escrevi na resenha de Um Sonho Possível, que as resenhas mais difíceis de serem escritas são sobre aqueles filmes que são medianos, e que passam batido sem maiores recordações em que vê.
Pois bem, Brilho de uma Paixão, a exceção da parte técnica que é muito, mais muito boa mesmo e da beleza natural e da explosão de talento nítida de Abbie Cornish, é comum.
O roteiro é mais uma fórmula de “paixonite” misturado a sacrifício e embalado com muito melodrama. Keats é pobre, doente e Fanny tem uma condição social confortável e é saudável e bela. Keats é um poeta doce e delicado e Fanny é decidida (uma mulher “a frente de seu tempo”). Keats é fechado e demora a perceber verdadeiramente seus sentimentos, enquanto Fanny é visceral com o que sente.
Essa fórmula funciona razoavelmente bem, porém perde muito com a condução claudicante de Campion, que telegrafa os acontecimentos, causando um certo enfado em que assiste. É tão óbvio que aquele casal não tem condições de ficar junto (e a diretora nem faz questão de esconder isso do público) que seria necessário criar alguma outra forma de conflito e não apenas reprisar os episódios da vida do casal.
Se a idéia era romancear os eventos faltou avisar ao péssimo Ben Whishaw que, como diria o Gabriel (outro membro assíduo do Fotograma), sofre da síndrome de James Marsden. Ou seja, Whishaw é o mesmo emocionado, amando, irritado, triste, feliz. Suas expressões resumem-se a “cara de bobo” e sua voz que sempre parece estar no mesmo tom, o que também indica uma sonolência em sua atuação inacreditável. Curioso que em Perfume- A História de um Assassino ele atuou da mesma forma, o que na época, me parecia interessante, já que seu personagem naquele filme era alguém sem “sentimentos”. Em Não Estou Lá ele conseguiu ser o "segundo melhor" Bob Dylan, perdendo apenas para a metamorfose de Cate Blanchett, ou seja o rapaz não é um medíocre. Porém nesse, ele é um poeta, alguém que em tese, é sensível e que demonstra alguma espécie de emoção. Whishaw faz de Keats um autômato chato e irritante.
Tal atuação medonha, além de prejudicar o conjunto do filme, destrói qualquer tentativa de uma construção de um romance por mais primário que seja, já que não dá pra acreditar na paixão por trás do casal.
Abbie, por outro lado, é muito talentosa além de ser dotada de uma beleza renascentista bastante interessante. Fanny é uma mulher decidida, mas de muita sensibilidade. A cena em que ela é informada (e não dá pra considerar isso spoiler já que o filme é baseado em fatos reais, e a biografia do Keats está até na Wikipédia) que seu amado faleceu é muito dolorosa pra quem assiste. Imagino que tenha sido muito mais complicada para a atriz, já que ela se entrega de uma maneira muito forte. Campion é genial nesse momento, ao deixar sua câmera parada para que sua atriz mostre tudo o que sabe e pode.
Uma pena que existam tão poucos momentos assim no filme, pois além da diretora saber o que fazer com uma câmera, a direção de arte é deslumbrante, os figurinos fazem jus a indicação ao Oscar, e ainda a fotografia e a trilha sonora são muito boas.
O problema é o que faz qualquer filme cair no conceito de qualquer um: o texto. O roteiro de Campion é uma coletânea de formulas prontas do “manual do filme de época”. A indefinição sobre personagens coadjuvantes que são fracos ou insipientes (a mãe de Fanny é uma porta que não emite sua opinião quase nunca, e o amigo de Keats é uma mala insuportável, bi-dimensional até o osso) derrubam as boas idéias de direção e obscurecem a grande atuação de Abbie Cornish, muito mais interessante do que Bullock e Streep que estavam no Oscar, e que muita gente endeusou.
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