sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Fim da Escuridão
(Edge of Darkness, 2010)
Thriller - 117 min.

Direção: Martin Campbell
Roteiro: William Monahan e Andrew Bovell

Com: Mel Gibson, Ray Winstone, Danny Huston

Mel Gibson de volta a tela grande. De volta “a frente” das câmeras, já que Gibson vem se dedicando a direção a pelo menos uma década. Por ter tirado o astro da aposentadoria, O Fim da Escuridão já valeria uma espiada. Martin Campbell (o mesmo de GoldenEye e Cassino Royale, ambos filmes de James Bond) dirige a produção que poderia muito bem ter como subtítulo “Quando a Idade Chega”. Pois, por meio da historia policialesca, Campbell conta como o policial Thomas Craven (um homem envelhecido pela profissão e pela vida) tem de reaproximar-se da filha que é assassinada na sua frente.

Se fosse um filme de arte, talvez O Fim da Escuridão fosse muito mais profundo e interessado em discutir como aquele homem que nunca foi próximo de sua filha, fará agora, que ela morreu para de uma forma ou de outra sentir-se próximo a ela.
Campbell opta pela jornada de um homem só (no melhor estilo Charles Bronson em Dificil de Matar) interessado em descobrir os assassinos de sua filha. Vale lembrar que o filme é baseado numa mini-serie britânica (que eu não vi) de 1985, dirigida pelo próprio Campbell.


Durante o percurso o personagem de Gibson (como em 11 entre 10 produções do gênero) descobre que os problemas são mais densos do que imaginava, de que existe algo conspiratório na situação, entre outros elementos básicos de uma produção policial.
Gibson lembra bastante seu personagem em O Troco e isso não é um elogio. Se naquele filme funcionava razoavelmente bem devido ao contexto (homem desesperado por vingança após ser preso), nesse pareceu forçado. Não consegui acreditar em Gibson pai, mesmo nas imagens em que o personagem escuta vozes da filha ou a enxerga pequena. Essas cenas deveriam funcionar como apelo emocional, não funcionam. Parece que Campbell teve de encaixá-las depois, o que quebra o ritmo do filme.

Mas mesmo sem os pequenos interlúdios, Fim da Escuridão, não passa de um policial genérico. Nem mesmo Gibson e seu carisma, conseguem elevar a qualidade do filme. Campbell conduz cenas de ação genéricas (incluindo um atropelamento extremamente clichê, usado desde Premonição até a série LOST). A trama é enrolada, e assim como o personagem de Gibson sente, precisamos de seguidos explicações. E tome personagem dizendo, e vem outro e repete, e logo depois aparece um terceiro que acrescenta algo. E no fim você nem lembra do que foi dito, tal nível limitado e quase estúpido do que propõe Campbell.


Garanto que quando tudo fica claro, o espectador um pouquinho mais exigente dirá: “Mas tanta enrolação pra isso?”.

Pois é. Fim da Escuridão completa o quadro medíocre criando o pior vilão de filme de ação do ano. Medonho de tão mal escrito, o personagem conta com frases de efeito “nível z” e exageros muito evidentes. Num determinado momento o pobre ator (que é bom e não vou contar para não estragar “a surpresa”) olha para o personagem de Gibson dias após a perda da filha, apresenta a cara mais “bandido malvado que mata criançinha” e diz: “Qual a sensação?”. Prestem atenção nessa aula de como não criar um vilão. É quase um serviço de utilidade pública.

E porque Fim da Escuridão não tem a pior nota do blog, já que você xingou o filme em cada linha que pode?

Ora leitor, por dois motivos bem simples.


Primeiro: Fim da Escuridão não quer ser mais nada do que uma diversão mediana. Nada mais do que isso, e por esse motivo seria leviano de minha parte querer classificá-lo da mesma forma que fiz com REC 2, por exemplo. Sem me estender, REC 2 era a sequencia de um filme fabuloso, extremamente criativo na forma de contar a historia e que funcionou muito bem. Logo, o padrão para a avaliação da sequencia também cresceu. Fim da Escuridão, por sua vez, não é sequencia de nada, mas foi vendido como o ”comeback” de Gibson, o que gerou alguma expectativa. Porém, tudo o que foi divulgado antes prenunciava o mais do mesmo. Mais um filme genérico policial, que se fosse estrelado por Wesley Snipes ou Lorenzo Lamas (ele ainda faz filme?) iria direto para as locadoras (ainda existe isso?). Por isso, apesar de achar o filme “bem mais ou menos” ele não recebe uma nota tão ruim. Expectativas medianas para um filme de igual calibre.

O outro motivo refere-se diretamente a algo que percebi no filme. Ray Winstone. Seu personagem, o misterioso Jedburgh, é a única coisa interessante do filme. Lembra um pouco os “heróis” de filmes policiais europeus, ou de filmes independentes. Jedburgh é aquele camarada que nunca define pra que lado vai, e cada cena sua é tensa. Será que ele vai sacar a arma e acertar um balaço no meio da testa de Gibson? Será que ele quer no fundo ajudar o cara? Se quer, porque? As motivações apesar de bem simplistas até seguram um pouco o fiozinho que o plot narrativo do filme. E muito do mérito tem de ir para Winstone, que mistura a pinta de malvado de Os Infiltrados com o ar blasé que compôs seu personagem em Everything (filme inglês de baixo orçamento, em que vive um homem em crise que procura a amizade de uma garota de programa).

Mais são dois pontos menores, que apenas impedem que O Fim da Escuridão seja um fracasso completo. Gibson merecia um retorno melhor.


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