Bronson
(Bronson, 2008)Ação/Drama - 92 min.
Direção: Nicolas Winding Refn
Roteiro: Brock Norman Brock e Nicolas Winding Refn
Com: Tom Hardy, Matt King
Algumas vezes, a análise que fazemos de um determinado filme é influenciada diretamente pelo momento em que escrevemos. Alguns filmes "funcionam" melhor há curto prazo e a resenha/análise consegue sair com mais facilidade. Outros merecem e precisam de mais cuidado e tempo. Poucos, porém, conseguem ser tão ressonantes que embora não consigamos refletir sobre tudo o que foi mostrado, ainda assim podemos traçar as impressões sobre o que foi visto.
Geralmente esse tipo de resenha (pelo menos comigo) costuma precisar de uma posterior revisão e talvez (nessa revisão) uma mudança radical de conceito, pois afinal, o impacto de uma obra deve ser seguidamente avaliado. Se ela for perdendo impacto com o tempo, é sinal de que no fundo ela não era tão boa quanto era no principio.
Essa enorme introdução é apenas para justificar os elogios a perturbadora produção britânica intitulada Bronson. O filme trata de um personagem real, Charlie Bronson (ou Michael Peterson) considerado o prisioneiro mais perigoso e famoso de todo o Reino Unido. Esse cara é de longe, um dos personagens mais doentio da historia recente do cinema.
A interpretação de Tom Hardy, uma mistura de Alex (Laranja Mecânica) com os momentos mais exagerados do Coringa de Heath Ledger é de tirar o chapéu. Laranja também é um filme, que (não me perguntem exatamente o motivo) me lembrou muito esse filme. Talvez pela tentativa de transformar o personagem em “herói” ou pela tentativa de lobotomizar Bronson num hospício, ou se foi pelo uso magnífico da trilha sonora pelo diretor Nicolas Winding Refn.
Refn consegue misturar com grande competência o lado “real” de seu filme com interlúdios oníricos onde o personagem principal dirige-se a uma platéia lotada num monólogo doente narrando seus passos rumo a completa e total demência. Entre eles, a discussão com a enfermeira interpretada por “meio” Bronson é genial.
Hardy atua sempre no fio da navalha entre o ridículo e o real, transformando-se muitas vezes em um personagem de histórias em quadrinho. Isso poderia soar artificial e absurdo se seu personagem não fosse nada mais do que uma casca grossa e imunda com quase nada por dentro. Uma montanha de hormônios com uma minúscula noz dentro.
A patética jornada rumo à fama do personagem mostrada pelo diretor é muito corajosa, pois além de fadada ao fracasso completo, é uma sucessão de imagens e eventos que podem causar revolta em gente mais “politicamente correta”.
Ter como personagem principal, alguém sem objetivos e sem metas (um legítimo filho da Blank Generation) é um risco enorme. Porém a condução de Refn é tão preciosa que o envolvimento do espectador com o filme é iminente.
O diretor mostra tudo na cara, apresentando seu personagem como um vilão tão caricato e exagerado (assim como a violência do filme) que é impossível levar a sério aquela dose cavalar de violência. Pelo menos eu não levei. Pareceu muito com os filmes de Guy Ritchie nesse quesito. Outro ponto de grande destaque é a trilha sonora, que mistura peças clássicas ou orquestradas com canções pop, como It’s a Sin do Pet Shop Boys, que vira quase a música tema do filme.
Refn a partir de seu personagem faz uma análise doente do que é a fama na forma mais insana possível. Alguém sem nenhum ideal, talento, capacidade e condição que apenas sonha em ser famoso, e que de uma forma completamente torta consegue.
Qual a diferença entre Charlie Bronson e dezenas de pseudo-famosos que sem objetivo algum apenas querem ser famosos? Sinceramente não sei.
Bronson é uma machadada na cabeça. Brutal e exagerado. Nocivo e perturbado. Uma cult que será analisado pelas gerações posteriores (se não forem bundonas) como uma obra de grande vigor.
Fiquei afim de conferir o filme!
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