sexta-feira, 14 de maio de 2010

Food Inc.
(Food Inc., 2008)
Documentário - 94 min.

Direção: Robert Kenner
Roteiro: Robert Kenner, Elise Pearlstein e Kim Roberts

Se existe uma coisa que une TODOS os seres vivos no planeta é a comida. Todo ser vivo, de todas as formas possíveis e imagináveis pela mente, se alimenta. Por isso, o assunto do documentário Food Inc. é sem duvida nenhuma, extremamente relevante e por isso, mesmo que fosse a quintessência a chateação valeria uma conferida.

Para nossa sorte, a competência de Robert Kenner e equipe fazem o documentário ser muito mais do que uma pregação ao vento. Food Inc. analisa o mercado da alimentação nos Estados Unidos. Um mercado doentio controlado por gente doente.

Durante há quase uma hora e meia (uma duração relativamente curta, tratando-se de documentários) do filme, são mostrados quase todos os problemas (e ainda bem, algumas soluções) que o mercado apresenta.


Desde as inacreditáveis condições a que os animais são acondicionados (as imagens das galinhas sendo “escolhidas” para o abate parece muito cenas que abordam o holocausto), passando pela “descoberta” do monopólio do milho, que esta contido em quase todos os alimentos industrializados consumidos no mundo. Isso sem contar com as histórias pessoais dos envolvidos. Em primeiro plano vemos a historia de uma mãe que teve o filho morto em conseqüência da intoxicação causada pela carne, ou do homem que faz, com ajuda de uma máquina, o reaproveitamento de sementes e que é perseguido por uma gigantesca corporação por quebra de patente (assistam o documentário para entenderem melhor).

Esteticamente o documentário segue a linha dos documentários que sabem dialogar com o público. Passam a mensagem de forma clara e direta, com o uso dos grafismos e com depoimentos diretos, curtos e que tocam no ponto exato de discórdia.

Uma bela edição amparada pela excelente trilha sonora e que foge do padrão dos documentários “denuncia” ao propor algumas idéias (como fizeram The Cove, Uma Verdade Inconveniente entre outros) para solucionar os problemas. E como nos demais, as mudanças devem partir de quem assiste. As pessoas não sabem o poder que tem, e isso é exemplificado no documentário.


Uma fazenda “real” (daquelas que agente da cidade grande acha que existem na maioria) é mostrada, onde tudo acontece como teoricamente deveriam acontecer. Lá, as vacas comem grama (e não milho), as galinhas não são engordadas artificialmente e os porcos não são largados na própria sujeira. O mais legal é que de todos os personagens entrevistados, o que mais é incisivo e inteligente é o dono dessa fazenda. Centrado em suas idéias do que quer pra si e para sua comunidade, é um exemplo de como refutar o lugar comum se soar demagógico. Um homem do campo que usa termos como “criaturas protoplasmáticas” para defender o modelo tradicional das fazendas. Muita gente vem comprar “direto do campo” o que ele vende, o que mostra que nós é quem temos de fazer a mudança.

Outro exemplo é mais “assustador”. Durante uma convenção de alimentos orgânicos na California (enorme) somos apresentados ao dono da terceira maior fabricante de iogurtes dos Estados Unidos e que conta como saiu do nada para estar sendo vendido (por imposição popular) no Wal Mart. Um exemplo claro de como as pessoas tem o direito e conseguem mudar até as cabeças mais duras.

Esse documentário me levou a uma reflexão curiosa. Queria ver o Brasil fazendo projetos como esse, que tocam nas feridas reais do pais. Nada contra quem prefira, os “glorificados” pelos críticos e mídia, os que versam sobre prédios abandonados e seus moradores, mordomos, mulheres cegas que se correspondem com presos e afins. Alguns são bons, mas são infinitamente menos importantes do que esse documentário por exemplo. Ou como o citado The Cove, ou mesmo como as “bobagens” de Michael Moore. Esses exemplos tocam em problemas reais de gente real.


O brasileiro parece mais castrado nesse ponto (resquícios AINDA da ditadura, talvez?) do que os americanos e europeus (em breve a resenha aqui do documentário sobre a multinacional Monsanto, feito na França), que são tradicionalmente muito mais conservadores.

Talvez nos falte coragem para expor de maneira direta os problemas (ou vontade), ou no fim gostamos mesmo é de BBB, Copa do Mundo, Carnaval e novela das oito. É muito, mas muito pouco mesmo para um pais com tanta coisa a ser dita.

Um comentário:

  1. Você não é a primeira pessoa que eu vejo falando bem deste documentário. Eu tentei alugar mais não achei por aqui e baixar da internet por enquanto não dá (é muito lenta..), então por enquanto vou ficar na vontade, mas fiquei com muita vontade de conferir. Uma pena que o Brasil, não dá o devido respeito a documentários e preferem ver BBB....
    mas a vida segue!

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